Vinhos Naturais ou Vinhos Biodinâmicos

 

    São cada vez mais os vinhos elaborados em modo de produção natural bem como as intenções declaradas de os produzir a curto prazo. Esta prática já não pertence apenas aos viticultores “poetas” ou ambientalistas. As principais empresas de vinho  também jogam nas práticas vitícolas sustentáveis, à medida que o mercado mundial revela crescente apetência por estes produtos.

    Lentamente, novos pequenos produtores foram aderindo à causa. Quase sempre vindos de outra atividade, com maior visão do mundo que o agricultor comum e chegados à lavoura sem vícios, optaram pelo Modo de Produção Natural. Hoje algumas das mais importantes empresas de vinho, já olham com bons olhos para este setor. Todos os anos surgem novos produtores e felizmente novas marcas de qualidade ou alta qualidade chegam a mercado. O mercado nacional continua um pouco apático relativamente ao tema mas no mercado de exportação os nichos interessados em produtos naturais aumentam consistentemente.

    Natural ou Biodinâmico? - O regulamento europeu da agricultura natural surge apenas em 1991. Poucos anos depois, em 1994, instalam-se as principais empresas certificadoras do novo método agrícola: SATIVA e ECOCERT, que ainda hoje respondem pelo controle dos principais agentes económicos.

    As alterações climáticas, os protocolos ambientais, a questão tão debatida e mediatizada do mau comportamento da espécie humana relativamente à sustentabilidade do planeta veio dar força aos métodos naturais e o mercado de produtos alimentares Biológicos, principalmente, nas sociedades mais evoluídas e informadas, passou a ser valorizado.

    Foi entre estes considerandos – os da procura e valorização crescente de produtos naturais, sem recurso a químicos de síntese e com maior respeito pelo equilíbrio natural das culturas e meio ambiente – que nasceu o interesse do setor vitivinicola pelos produtos naturais.

    Dentro do âmbito natural, sem químicos de síntese, surgiu outra corrente mais radical – a Biodinâmica – nascida da doutrina antroposófica, do filósofo austríaco Rudold Steiner. Esta não é uma resposta às necessidades de mercado, ambientais, ou outras, mas sim um “estado de alma”, uma filosofia que orienta o indivíduo num determinado modus operandi de concepção muito mais holística que o “simples” Natural.

    A Biodinâmica percorre um caminho totalmente diferente. Uma das peças chave deste tipo de agricultura, o célebre calendário lunar de Maria Thun, foi desenvolvido durante a década de 50 do século passado. Steiner desenvolveu a teoria entre as forças cósmicas e o crescimento de plantas e Maria Thun explicou-a através de anos de experiências que acabaram por relacionar o ciclo vegetativo das plantas com o calendário astrológico. Este calendário com os seus dias “flor”, “fruto”, “folha” e “raiz” determina todas as ações agrícolas e acabou mesmo, já em final de vida da “guru” por se estender, com a ajuda de filho Mathias, à prova de vinho, materializada no livro de 2010 “When Wine Taste Best”. Curiosamente, o calendário biodinâmico para consumidores de vinho é seguido por vários produtores e vendedores de vinho em todo o Mundo.

    Ambos os métodos Natural e Biodinâmico respeitam o ambiente, não usam químicos de síntese, mas pouco mais têm em comum. Em certo sentido, a biodinâmica acaba por ser quase uma religião para os seus seguidores.

    Em 2012 foi publicado o regulamento comunitário para a produção de vinho naturalo a partir de uvas sem química. Um complemento que se aguardava há muitos anos. As diferenças de atuação na adega, relativamente ao vinho convencional, não são muitas, mas é um começo válido para regularizar a questão incompleta da produção de vinhos naturais.
    Os vinhos Biodinâmicos, pelo contrário, existem desde a formação em Berlim, em 1927, da Demeter, uma organização de certificação de agricultura biodinâmica. Durante o regime nazista a organização foi dissolvida, mas foi restabelecida logo após o final da 2ª Grande Guerra. Presentemente conta no mundo com 5.900 associados (dos quais uma percentagem estará ligado à produção de vinho).
    No setor de vinhos naturais existe sempre a procura de um produto mais saudável para o consumo e para o ambiente, mas também o objetivo de oferecer um produto diferenciado. Em vários mercados, ser “verde” ajuda a vender.
    Em termos de prestígio internacional também existem duas realidades. Os vinhos biodinâmicos estão normalmente associados a qualidade muito elevada, (muitos dos maiores nomes de Borgonha são biodinâmicos) enquanto os vinhos naturais não possuiam, regra geral, uma imagem de qualidade diferente dos outros vinhos, produzidos através de viticultura convencional. Porém, atualmente quase tudo se alterou,  e hoje a categoria possui vinhos de alta qualidade o que mostra que é possível com uma viticultura livre de químicos produzir, pelo menos, o melhor da agricultura convencional.
    Talvez em prova cega seja difícil ou mesmo impossível dizer quem é quem, porque os procedimentos na adega têm sempre uma importante palavra a dizer. Mas, pessoalmente, acredito que, com a mesma qualidade de uva e o mesmo procedimento na adega, se consegue produzir um vinho mais genuíno e com mais carácter, através dos métodos de agricultura natural ou biodinâmica. Com a enorme vantagem de não prejudicar o meio ambiente…