La Vie em Rose

La Vie em Rose

 

alando de Vinhos e Amigos

Ricardo Albergaria

 

    Mesa rodeada de amigos do Senac Águas de São Pedro papeando sobre assuntos diversos: aviões, apagões, desilusões... O vinho e a gastronomia (como não poderia deixar de ser) terminaram como tema central da mesa. Todos poucos sóbrios, levemente lúcidos para defender suas teorias secretas de agenda de anotações. Algumas taças de vinho cheias outras vazias como alguns corações presentes. Do outro lado da mesa entre o balde de gelo e nossos rostos notei que alguém já cochilava (era a Francine). Outro alguém do lado de fora, encostou seu carro com uma música suave que entrou nos meus ouvidos como se fosse bálsamo. Enquanto isso, as vozes de Gustavo e Andressa levantavam teorias sobre os vinhos degustados. “Os aromas de baunilha, coco, chocolate e pimentão, nos remetem a um vinho complexo... A cor rubi com reflexos atijolados, já nos faz crer num vinho amadurecido e pronto para ser degustado...”. Álvaro, entretido em seus pensamentos, pois estava com a mão no queixo enquanto segurava a taça, disse que o vinho, como o amor, eram conceitos impares, que nos permitiam uma liberdade de expressão e sentimentos. A musica lá fora ainda sussurrava dentro do carro: “... toda vez que eu olho, toda vez que eu chamo, toda vez que eu penso em lhe dar o meu amor, meu coração...” Eu misturava a voz rouca de Tim com a voz embrulhada do amigo. E balançava a cabeça curtindo a letra da música e concordando com sua teoria.

    O barzinho começou a encher de pessoas. Apaixonados por vinhos como nós, ou não. Mas todos a procura de estar reunidos com amigos, curtindo a vida. Nossa mesa de repente ficou em silêncio por um instante. Mas logo foi cortado por Karla, que afirmava: “...o vinho, como o amor, é uma embriaguez que toma conta de nossas almas, nos obrigando ao deleite de prazeres até então desconhecidos”.

    Na minha teoria silenciosa acabava de perceber que o amor sem limites às vezes é ilusão e uma sensação de vinho a mais no sangue. Mas, como há muito já sei: vinho e amor nunca são demais.

    Lá fora, no avançado das horas, as pessoas já se tinham ido para outros cantos e lares. A música que tocava no carro de alguém já não estava mais lá. Olhei para os amigos... Hora de ir embora. Taças vazias, corações felizes. Cabeças sonolentas e corpos pedindo cama de adormecer. Alguns últimos freqüentadores com o seu, com a sua. Outros apenas na sua.

    Ao deitar a cabeça no travesseiro ouvi a voz novamente de Edith Piaf: “...Quand il me prend dans ses bras. Il me parle tout bas. Je vois la vie en rose...”