O Vinho como elo de união.

 

"As águas separam os povos do mundo, o vinho os une".

 

 

Hoje de manhã, voltando da Unicamp em Campinas, após uma reunião, dei carona ao meu amigo Prof. Jacks Jorge Júnior. Voltamos conversando sobre vários assuntos, sendo um deles, o vinho. E durante a conversa Jacks me disse uma coisa que ficou marcada: ¨Vinho não é só uma bebida, vinho é um cerimonial.

Quando chegamos em Piracicaba, fiquei pensando nessa frase e resolvi escrever alguma coisa sobre esse cerimonial que se transforma num elo de união.

Eu gosto de vinho. Branco, tinto, verde, rose, espumante, gosto de vinho, e não é só para fazer figura e bebericar meio copinho, que isto do gostar de vinho vem de família graças a Deus, e já o minha mãe até aos 90 anos ainda reservava uma garrafa para os almoços e jantares do dia-a-dia sem pestanejar.

Sem perceber, estes momentos de minha mãe remetem ao que chamamos de cerimonial, que para o Aurélio significa um conjunto de formalidades que se devem seguir num ato solene¨. E este ato solene para a Da. Nair eram os almoços e jantares acompanhados de um bom vinho e com toda família reunida.

O conhecimento de cerimonial nunca teve tanta importância como nos dias atuais, pois é uma arte com filosofia e normas de conduta desenvolvida ao longo dos século. Todo evento segue uma programação constituída por um conjunto de itens e formalidades. Tratando-se do vinho como um cerimonial, podemos dizer que o ato de se degustar um vinho é determinado por uma sequencia de acontecimentos. Esta sequencia nos permite aprendizado, flexibilidade, paciência, cordialidade e uma nova visão a respeito dos vinhos e amigos envolvidos.

Historicamente o vinho é uma das bebidas mais antigas e por isso a mais carregada de senso cultural. Traz em si o dom de congregar pessoas à sua volta, para celebrar com o ele as amizades e a vida.  Como diz Flávio MPinto “vinho e amizade não se usam nem se consome de qualquer forma. Tem toda aquela frescura de mostrar o rótulo, retirar a rolha, servir, encher a taça de modo adequado. A amizade também deve seguir o cerimonial do vinho: não é simplesmente chegar, abrir a garrafa e entornar. Vinho é coisa séria, amizade é coisa séria e, ambos tem de ser tratados com a sensibilidade adequada e suficiente para não matar a mistura”.

Este cerimonial que reúne amigos e vinhos é regido pelo interesse comum das pessoas pelo assunto vinho. Vinhos e Amigos... Porque é através do vinho que surgem alguns amigos e é através dos amigos que aparecem alguns vinhos. De outro modo seria algo passivo, inócuo e sem graça.

Durante o cerimonial da degustação não escolhemos vinhos para impressionar outras pessoas, mas sim para nos dar prazer através de novas descobertas de aromas e sabores, para presentear ou para dividir com amigos e/ou simplesmente, para bebermos quando nos dá vontade. É certo, que reunidos em grupos aprendemos muito mais sobre esta bebida/alimento, sem qualquer preconceito ou receio por aquilo que sentimos através das sensações organolépticas. Partilhamos com liberdade tudo àquilo que nos ocorre em pensamentos e que nos vai na alma.

Responda para si mesmo, se alguma vez você se sentou a uma mesa para tomar um vinho, sem dar importância se ele era adequado ao seu paladar. Se o ato foi algo simples como colocar na taça e engolir sem ao menos sentir seus aromas e ver se combinava com os alimentos escolhidos. Na época de estudantes, com a grana mais que curta, quase inexistente, acredito que alguns vinhos rasqueiras foram utilizados em momentos de festas acadêmicas. Muita ressaca com uma grande dor de cabeça no dia seguinte. Sem cerimônia nenhuma, você jurou nunca mais beber vinho, ou pelo menos, nunca mais tomar uma bebedeira com vinho.

O vinho seria simples assim se fosse como outra bebida qualquer, mas não é. Felizmente para nós que gostamos dele. Concordo que é preciso simplificar as formas de apresentação do vinho ao público em geral; mas tomar vinho simplesmente por tomar acaba como acima: bebedeira e dor de cabeça – e por fim, como é só para encher a cara, os produtores podem baixar a qualidade, já que ninguém notaria.

Acredito ser importante, melhorar as informações a respeito dos vinhos para toda a população, do que simplificar o vinho de forma tão cruel, que acabe prejudicando quem desfruta realmente desta bebida/alimento.